Pessoal, como sou formada em Letras, gosto muito de falar sobre a Língua Portuguesa que eu amo tanto e tem se tornado o meu pão de cada dia, apresento a seguir, um trecho de minha monografia, feita ao final do meu curso. Este é um tema que muito me interessa e gosto de compartilhar com as pessoas. Espero que gostem!
A Língua Portuguesa não é e nunca foi uma língua uniforme, estável, sempre houve mudanças em sua estrutura. Surgem novas palavras e algumas delas que se falavam séculos atrás hoje já não se falam mais ou são faladas de maneiras diferentes do que eram. Com essas mudanças também surgem muitas maneiras de se dizer uma palavra que fogem ou não respeitam a norma padrão. Essas variações sempre se encontram em relação de concorrência, de divergência com a norma culta padrão da Língua Portuguesa, surgindo com isso uma grande rede de preconceitos diante das diversas variedades de falas encontradas entre os falantes da Língua Portuguesa, devido à dicotomia do padrão vs. não-padrão, conservador vs. inovador, prestígio vs. estigmatizados etc.
Preconceitos vindos de pessoas que se consideram cultas, letradas, conhecedoras de todas as regras da Língua Portuguesa, pessoas geralmente de classe social mais elevada do que a das pessoas discriminadas, sendo que também é possível encontrar a discriminação entre pessoas da mesma classe ou status social. Essas pessoas acreditam que os manuais de gramática e os dicionários são as únicas possibilidades de uso da língua, como se fosse a única maneira correta de falar a Língua Portuguesa. Mas o que elas não sabem ou não percebem, ou ainda, fingem não saberem ou não perceberem é que elas também cometem erros muitas vezes bem distantes da sua tão seguida norma padrão da Língua Portuguesa, sendo até considerados por eles apenas como descuidos ou lapsos, já que se admitem errarem, pois sabem a forma correta de falar.
Contudo, o que essas pessoas realmente não sabem é que para essa grande variedade de dialetos, de variações linguísticas encontradas nas falas das pessoas no dia-a-dia podem ser explicadas por vários aspectos como: estilo de fala, sexo, faixa etária, classe social, grupo étnico, localidade etc. Conhecer cada um desses aspectos e motivos que levam a ocorrer variação linguística nos fará compreender e aceitar melhor a grande variedade que existe em nossa língua. Mudanças ocorrem em todas as línguas e não há línguas fáceis ou difíceis, elas apenas se diferenciam entre si e nós não temos como impedir que a língua se modifique, além do mais, nós somos os principais responsáveis pelas mudanças na língua. Quanto mais variedade possui uma língua, mais expressiva ela é, mais maneiras de expressar e dizer o que pretendemos e com isso seremos mais e melhores compreendidos pelas outras pessoas, isso se não levarmos para o lado pessoal e julgarmos que só o que falamos é o correto e desprezarmos a fala do outro, ou seja, se não houver o preconceito.
Ao analisarmos as falas das pessoas no dia-a-dia, podemos perceber uma grande variação em suas pronunciações. Essas variações presentes nas falas das pessoas podem ser explicadas sob vários aspectos, sendo estudadas por várias ciências que se interessam pela linguagem humana. Infelizmente, essas variações são consideradas pela norma culta da Língua Portuguesa como erros, como desvios da norma padrão, sendo que a maioria dessas pessoas quase nem percebe que fala dessa forma ou não conhece essas normas, achando que está falando corretamente.
De acordo com os dados obtidos em uma pesquisa de campo, podemos perceber uma grande variedade linguística nas falas das pessoas. Constatamos que a maioria das pessoas tem ciência de que está falando errado, de acordo com a norma culta, mas por motivo de costume continua a praticar esses desvios. Percebemos também que elas falam despercebidamente, sem prestar atenção de que estão falando dessa forma. Mas isso só ocorre em momentos descontraídos, em casa, em festas, com os amigos; quando estão em situações que exigem uma boa apresentação, as pessoas procuram falar o mais corretamente possível, de acordo com seus conhecimentos. Ninguém sai falando gírias em um ambiente de trabalho, como também não falam formalmente no meio de amigos e parentes. Percebe-se que as pessoas procuram adaptar as suas falas de acordo com o ambiente e a situação em que se encontram, não falando sempre da mesma forma em todas as ocasiões. Constatamos também que, as pessoas ao saberem que estão sendo avaliadas mudam totalmente a sua forma de falar, expressando-se da melhor forma possível. Podemos perceber também que algumas pessoas sabem a forma correta de falar, mas por brincadeira, por ironia ou por força do hábito acabam falando errado, somente para não perder o costume.
Se formos analisar a fala das pessoas de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa, podemos dizer que a maioria das pessoas fala errado. Mas se formos analisar de acordo com os motivos e causas que levam a ocorrer as variações, podemos dizer que as pessoas apenas falam diferente. A Língua Portuguesa sofre constantes mudanças, adaptações para uma melhor pronunciação. Na fala, essas mudanças se adaptam mais rapidamente do que na escrita.
Há um preconceito muito grande com essas variedades linguísticas, todos nós cometemos essas falhas e, portanto, devemos perceber que não temos o direito de julgar ninguém pela forma que fala e sim aceitá-la da forma como é. Fazemos essas alterações para uma melhor transmissão da mensagem, em que o que importa realmente é a compreensão da mensagem a ser transmitida.
Aprender uma língua é aprender a dizer a mesma coisa de diversas formas e que não existe uma única forma de falar. A língua nos dá sempre várias alternativas e saber uma língua e saber utilizá-la é saber em parte dizer uma coisa de muitas maneiras, inclusive, saber as diferenças de sentido e de condições de uso que essas várias maneiras implicam e supõem.
Contudo, o que se busca aqui não é a eliminação do preconceito, com a aceitação de todas as variações linguísticas e nem o uso somente da norma padrão da Língua Portuguesa, o que provavelmente nos levará ao preconceito. O que realmente se busca é a intermediação entre os dois, que todos conheçam a norma padrão e a não-padrão, saibam como e quando utilizá-las, visto que sem a norma padrão não haveria ordem na forma de falarmos e expressarmos a Língua Portuguesa, e cada um teria a sua própria língua, com suas regras e formas de falar, podendo não ser compreendido por outra pessoa que por sua vez também teria a sua língua. Ninguém faz o uso do Português padrão integralmente em sua fala, a todo o tempo e lugares em que se encontram, sempre há alguma variação presente em sua fala.
Com isso fica claro que não podemos usar somente uma ou outra, uma vez que nem sempre todos possuem o mesmo acesso a educação, uns possuem mais acesso do que outros devido à grande desigualdade social presente em nosso país. Aqueles que não possuem esse acesso são privados de uma educação de qualidade como aqueles que possuem acesso recebem. Esse é o principal motivo de não poder haver o preconceito ou somente o uso do Português padrão ou do não-padrão. Se todos pudessem ter o mesmo acesso à educação talvez se pudesse pensar na possibilidade do uso somente do Português padrão e consequentemente na não existência do preconceito linguístico. Infelizmente, isso está muito longe de acontecer, enquanto a escola e, principalmente, os professores não mudarem suas concepções em relação ao ensino da Língua Portuguesa, ainda haverá muito preconceito frente à variação na fala das pessoas.